Depois de celebrarmos os 34 domingos do tempo comum, ainda temos os dias posteriores à Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É ainda liturgia do tempo comum. Ela continua dando o sentido escatológico da divindade de Cristo, até as primeiras vésperas do sábado ao anoitecer. Aí, terminado de fato o ano litúrgico, entra o primeiro domingo do advento, para dar início a um novo. São quatro os domingos deste tempo que dá início ao novo ano e que servem de preparação para a celebração do nascimento de Cristo.
Neste período do tempo comum, o evangelho proclamado é predominantemente de São Lucas. Quando teve o início do ainda atual ano litúrgico, do ano de 2024, a caminhada começou com o advento, quatro domingos preparatórios para o nascimento de Cristo, e também meditava-se nestes, a segunda vinda de Cristo, uma vinda gloriosa em que acontecerá nos finais dos tempos, Cristo que retornará novamente para reinar a assumir o seu trono. Após esse tempo, se retoma novamente o tempo comum, em um período mais breve variando com o ano. A igreja medita e espera confiante esta segunda vinda e diz “vigiai e orai”. Também isso acontece após as celebrações da Páscoa, que terminam com pentecostes. A liturgia tem maior realce, maior destaque nos domingos, sendo a cor litúrgica do tempo comum verde, simbolizando essa esperança na pátria celeste.
Justamente com a Páscoa, que culmina com a ressurreição de Cristo, realização do plano salvífico, Mistério de Cristo em sua plenitude, o tempo comum é um tempo que deve ser vivido e celebrado com profunda fé, alimentada pela caridade e pela esperança, com os olhos ao céu, culminando com o encerramento, no dia da solenidade de Cristo Rei do Universo.
Nesta solenidade é lido o Evangelho de São Lucas 23,35-43, parte do Evangelho da paixão e morte do Senhor na Cruz. São Dimas, o bom ladrão, peça importante deste Evangelho, dá o primeiro passo para a sua salvação, reconhece humildemente a sua miséria e tem o encontro com a misericórdia: “‘Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado’. Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso’”.
É o evangelho escolhido, onde se proclama Jesus como rei, que serve e se oferta pelo seu povo, dando a sua vida no seu trono da cruz! Na Semana Santa também se lê e se medita este trecho do Evangelho, onde se ressalta a paixão e morte de Jesus. Mas aqui, no fim do tempo comum, na solenidade de Cristo Rei do Universo, destaca-se o seu reinado. Jesus é Rei e Salvador de nossas vidas. Na figura do Bom Ladrão, São Dimas, muitos de nós estamos representados. Podemos facilmente nos colocar no seu lugar, dar este testemunho de fé. Como ele, nós também podemos dizer: “Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. Reconhecemos que Jesus é o Rei que veio servir, e não para ser servido, por amor! Ele tomou sobre Si nosso pecado.
E é com grande ênfase que devemos ter e coroar Jesus como o Rei de nossas vidas. Ele que é o sucessor do Rei Davi, a promessa, o Rei Messias e Salvador. Os sumos sacerdotes, relatados no mesmo evangelho dizem: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!” Eles esperavam um messias que os fosse salvar do poder de Roma, um rei tirano, que traria a paz. Eles não acreditavam na pessoa de Cristo como o Messias esperado. O que eles viam era um derrotado, o contrário do que pensavam. Em meio a esta sua grande falta de fé, brilha a luz da fé de Dimas, como um farol. Crucificado, ele professa o triunfo de Deus e enxerga Jesus na cruz como Rei. Por isso, percebe que o reino de Cristo não é deste mundo e não acontece como queriam os Judeus.
A exemplo de São Dimas, que reconhece a própria sua insignificância e o peso de seus erros e pecados, se encontra consigo mesmo, com sua miséria, com fé em Jesus, ele diz: “Para nós, é justo”, também nós merecemos punição, somos miseráveis pecadores. Dimas pode e teve esse encontro com o Deus misericordioso. Precisamos dar este passo doloroso e reconhecer a nosso miséria, arrependermos de nossos pecados, com fé, crer em Jesus que é o meio da nossa Salvação. Aí alegremente receberemos a misericórdia. Ter a fé de Dimas, fará acontecer a entrada de Jesus, o Salvador em nossas vidas, reinando em nós. Nós ouviremos, como Dimas: “Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso”.
Esta solenidade de Cristo Rei, foi instituída pelo Papa Pio XI, em 11 de Dezembro de 1925, com a encíclica Quas Primas. Uma reforma litúrgica posterior (em 1969 – até aqui data da festa de Cristo Rei era o último domingo de outubro) tirou esta solenidade do seu lugar, justamente para demonstrar mais claramente a realeza de Cristo, como Rei triunfante e que ainda voltará. Jesus mostra-se assim como o começo e o fim de tudo. Que possamos seguir o exemplo de São Dimas, ter uma fé no reinado do Senhor, reconhecendo a nossa realidade de miseráveis pecadores, para podermos nos encontrar com a misericórdia do Senhor e assim podermos servi-lo em nossa caminhada com a igreja rumo a pátria celeste. Viva Cristo Rei!
Cristo Rei nosso! Venha a nós o vosso reino!