O NATAL NA IMAGINAÇÃO DAS CRIANÇAS

02/12/2025 às 10:28h

 

Num fundo bem próximo e sensível da nossa memória está a recordação das primeiras vezes que celebramos o Natal. Foi na bela infância.

Assim como na páscoa, mas principalmente no Natal, nós esperávamos receber algum presente. Neste caso, era a alegre surpresa do menino Jesus! Sempre vinha junto, adoçando a vida, uma dúzia de alegres balas. O presente geralmente era um brinquedo. Para os meninos, era algum carrinho, uma Kombi ou um fusquinha, um tratorzinho, uma “patrola”, uma caçamba, uma carregadeira. As meninas geralmente recebiam alguma boneca, um carrinho de bebê. Embaixo do arvoredo do pátio da casa fazíamos as estradinhas para brincar. Tinha bom tempo para isso, além dos pequenos afazeres ordenados pelos pais.

Receber o presente no Natal era algo muito especial. Era o menino Jesus que trazia. Por pequeno que fosse o presente, era dEle. Ele nos tinha amor. Olhava para cada um de nós. E como Ele trazia? À noite, quando chegávamos da missa, imperdível missa do Natal, com a ajuda dos pais, deixávamos arrumado um pratinho cheio de grama, embaixo da cama, para do menino Jesus o burrinho comer. Sim, no sono da noite, Ele vinha montado num burrinho e deixava o presente no mesmo coxinho onde estava o pasto que o burrinho tinha para comer. Era uma troca. Nós alimentávamos o burrinho e Ele nos dava o presente. No despertar da manhã de Natal, alegremente encontrávamos o presente. E, para ver o quanto era real a passagem do menino Jesus e o fato de Ele mesmo dar o presente, o mesmo burrinho da ruminante boca perdia fiapos de pasto a cair pelas trilhas da casa, até ir ao outro quarto, onde continuava a troca. Ainda depois perdia mais fiapos de pasto, deixando sinais até a porta da casa.

Nalgumas famílias, em outros lugares, isso acontecia na festa dos Reis Magos. Eram os camelos que comiam o pasto. Que maravilha eram estas tradições familiares! Que espetáculo de formação do imaginário! E nem era uma fábula ou um conto. Sabíamos que era diferente a história da Festa no céu, quando o sapo entrou no violão do urubu para poder participar da mesma festa. Sabíamos que a história de Joãozinho e Mariazinha era apenas uma estória, um conto. Coisas lindas, com riqueza educativa, mas símbolos. O Natal era, acima de tudo, história misteriosa e tremendamente real. Os pais que o digam, pela alegria de alimentar assim a esperança nas crianças. Muito obrigado a eles por isso.

Lembramos do costume de uma família vizinha, com mais de uma dezena de filhos, a maioria já casados, de montar o seu presépio. Tínhamos uma bela curiosidade de ver como tinha sido feito naquele ano, já que havia diferenças em cada ano. Logo que nós visitantes chegávamos, os adultos, geralmente a dona da casa ou uma das filhas, mostravam o presépio. Enquanto os adultos partiam logo para os seus interesses, a troca de visitas e conversa, nós, crianças, ficávamos a contemplar o presépio e nos parecia que o tempo tinha parado. Ver o presépio era algo sublime. Havia uma doce alegria de ver Deus de perto. Aquela identificação com Deus ter-se tornado criança, um mistério próximo. Na Igreja sempre se montava o presépio. Também era diferentemente belo todos os anos. As figuras encantavam. O boi e o burro pareciam pensar. As ovelhas, pareciam caminhar e mais empenhadas em descansar e comer, tinham a grama à vontade, com um laguinho para beber água. O camelo chegando era um bicho estranho, também os seus donos, com aquelas roupas diferentes. Eram os reis magos. Mas, ali, numa casa, era mais forte essa sensação da visita de Deus. Deus criança, um bebezinho, que Maria e José cuidavam! Com Ele, ali a história já tinha mudado. Ele iria crescer e fazer muitas outras coisas. Já vagamente sabíamos e recordávamos o que tinha acontecido com Ele, que era o mesmo da Páscoa. Fomos aprendendo que aquele era o mesmo que depois morreria na cruz e ressuscitaria. Talvez passasse pela nossa cabeça que num longínquo tempo adiante, é assim que as crianças pensam quando será a morte, precisaríamos dEle, para nos despertar do sono da morte. Mal sabíamos que, para sair do pecado, logo recorreríamos a Ele e nem tínhamos em conta que, no batismo, Ele já tinha agido. Além disso, por Ele, tinha sido criado o mundo e a nós. São as imaginações e o que sentem as crianças diante do presépio.

 

Quanto comunica o presépio!

 

Fonte: Cônego Elisandro Fiametti
Fotos