NON VOS ME ELEGISTIS, SED EGO ELEGI VOS

05/08/2025 às 12:36h

A igreja dedica tradicionalmente o mês de agosto às vocações. E para tratar adequadamente e como convém sobre ela, faz-se necessário entender em primeiro lugar o fim do homem. Pois, é através da causa final das coisas que descobrimos para que elas servem. Santo Tomás de Aquino, o Doutor Comum da Igreja, na segunda parte de sua Suma Teológica ao indagar-se sobre o fim último do homem conclui que o fim do homem é a bem-aventurança, e esta não pode estar ou consistir nos bens criados como as riquezas, as honras, os prazeres, senão em Deus mesmo.

“É impossível estar a bem-aventurança do homem em um bem criado. A bem-aventurança é um bem perfeito, que totalmente aquieta o desejo, pois não seria o último fim, se ficasse algo para desejar. O objeto da vontade, que é o apetite humano, é o bem universal, como o objeto do intelecto é a verdade universal. Disto fica claro que nenhuma coisa pode aquietar a vontade do homem, senão o bem universal. Mas tal não se encontra em bem criado algum, a não ser só em Deus, porque toda criatura tem bondade participada. Por isso, só Deus pode satisfazer plenamente a vontade humana, segundo o que diz o Salmo 102: 'Que enche de bens o teu desejo'. Consequentemente, só em Deus consiste a bem-aventurança do homem".[1]

 Por tanto, quando falamos de vocação nos referimos principalmente a um chamado de Deus, a uma convocação divina para uma finalidade maior que é a bem-aventurança, isto é, Deus mesmo. Isso significa que o horizonte para o qual todos devemos caminhar é a santidade. É esta, em última instância, nossa verdadeira vocação e a mais urgente. De modo que, antes de trilhar uma vocação específica, o fundamento que dá sentido às nossas vidas deve estar bem posto. Somente assim estaremos dispostos a sair de nós mesmos para corresponder adequadamente não só a esta vocação ou chamado universal à santidade, mas também àquela que escolhamos em vistas a esse fim supremo. Diga-se novamente, a vocação primária é unir-se a Jesus, e que a escolha entre o sacerdócio, a vida religiosa ou o matrimônio não é mais do que decidir em que circunstâncias se viverá essa união, necessária a todo homem. A final de contas, toda vocação implica uma saída de si, pois o sentido desta encontra-se além dela. Diante disso, pensar que percorrer a vocação consiste em escolher algo onde seja mais importante a satisfação própria se deparará, mais cedo ou mais tarde, em meio de seus cansaços e trabalhos, a frustração, porque nunca encontrará o sentido dela. Santo Agostinho já dizia: “Corres bem, mas fora do caminho”.

Deus nos chama a uma vida mais perfeita, é por isso que se Ele mostra o fim, dá também os meios. Nesse sentido, a Igreja sempre entendeu a vocação específica também como um chamado de Deus a um estado de vida determinado. O matrimônio, por tanto, é uma vocação e também o são todas as diferentes profissões, como as de médico, professor ou policial. E assim cada pessoa tem alguma vocação, que é aquela que melhor se adapta a seus talentos, mas também a que mais lhe prepara e ajuda a salvar a sua alma e a dar maior honra a Deus, que como vimos, é o fim do homem. Por isso, toda pessoa tem o dever de discernir e cumprir os deveres dessa vocação. Porém, dentre todas estas vocações supracitadas quero dar particular destaque a uma vocação particular pela qual Deus chama a um estado de vida superior, em que o homem, renunciando ao mundo para entregar-se totalmente a Ele, obriga-se a observar não somente os mandamentos de Deus, mas também os conselhos evangélicos. A esse estado de vida superior é reservado o nome de “vocação” em sentido estrito.

O sacerdócio e a vida religiosa são vocações infinitamente superiores a todas as outras, porque têm como fim imediato o serviço de Deus e o bem das almas. São dons especiais e gratuitos dados a aqueles que Ele mesmo escolheu: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (Jo. 15,16). Deus quer derramar sobre a humanidade abundantes bênçãos e graças e escolheu o sacerdote para ser o instrumento especial dessa tarefa e os religiosos para serem especiais intercessores dos homens. Sem o sacerdote, os sacramentos e a constante oração dos religiosos, muitas almas não conhecerão a Deus e lhes será muito difícil chegar ao céu. Por isso, discernir as verdadeiras vocações sacerdotais e religiosas é de suma importância.

Digamos, por fim, que a vocação não deixa de ser livre. Deus quis que em toda vocação houvesse algum risco. Há risco em qualquer matrimônio...em toda profissão de médico...de engenheiro. Por que não arriscar algo por Cristo? Em todo caso, saibam que este risco terá sempre sua recompensa.

 

[1] Cf. Suma Teológica, I-II, q. 1, a. 7

Fonte: Seminarista da teologia Diego Alberto Duarte Quiñónez