DAR-SE A COMUNHÃO? IMPOSSÍVEL!

03/09/2024 às 10:41h

A incompreensão da Eucaristia como Mistério resultou em práticas que representam um absurdo abuso desse Sacramento.

Em alguns lugares, ainda não é tão incomum que a patena e o cálice sejam deixados no altar para cada fiel tomar, por si, a Sagrada Comunhão sem a intervenção do sacerdote, que permanece sentado. Outra prática que persiste em alguns ambientes é a de passar a patena e o cálice de mão em mão enquanto todos permanecem sentados.

Essas práticas refletem uma concepção sacramental extremamente empobrecida. O Santíssimo Sacramento da Eucaristia é, nessas ocasiões, tratado como uma simples refeição fraterna, marcada por igualitarismo e informalidade, em vez de ser reconhecido como o Mistério profundo que é.

A Eucaristia não é apenas uma refeição entre amigos. O que Jesus Cristo instituiu na Última Ceia foi muito mais do que isso. A visão liberal e modernista que reduz a Eucaristia a uma refeição de colegas nega a divindade de Cristo e seculariza suas ações. A prática da auto comunhão, comum em missas de pequenos grupos, encontros, acampamentos de jovens e até em algumas missas paroquiais, é uma aberração diante do Mistério da Eucaristia.

Consoante a Tradição da Igreja, é sempre um ministro que deve distribuir a Comunhão aos fiéis, utilizando a fórmula que convida à profissão de fé na presença real de Cristo. Santo Agostinho frequentemente comentou sobre a importância da fórmula “O Corpo de Cristo” e da resposta “Amém”.

Nos diferentes ritos litúrgicos, a distribuição da comunhão sempre inclui essa profissão de fé. Por exemplo, no rito hispano-moçárabe, o sacerdote diz: “O Corpo de Cristo seja a sua salvação–Amém”, enquanto no rito bizantino, é dito: “O servo de Deus N. recebe o Corpo e o Sangue de Cristo para o perdão dos pecados e a vida eterna”. Em todos os casos, o Corpo e o Sangue do Senhor são entregues e recebidos, não tomados pelos fiéis.

A Instrução Geral do Missal Romano deixa claro que “não é lícito aos fiéis tomarem eles mesmos o pão consagrado ou o cálice sagrado, muito menos passá-los de mão em mão entre si” (IGMR 160). Esse abuso não tem base na liturgia atual, que o rejeita categoricamente. A Instrução “Redemptionis Sacramentum” reafirma essa disciplina, afirmando que “não é lícito aos fiéis tomar a hóstia consagrada ou o cálice sagrado ', e muito menos passá-los reciprocamente de mão em mão'. Nesta matéria, além disso, deve ser abolido o abuso dos cônjuges na Missa das Núpcias, administrando reciprocamente a Sagrada Comunhão entre si” (RS, n. 94).

Essa disciplina é necessária porque a liturgia é sempre um dom a ser recebido, não algo que se toma por si. Na Igreja, todos os sacramentos são recebidos como um dom: ninguém se batiza a si, ninguém se absolve de seus pecados, ninguém se unge com o óleo dos enfermos. Da mesma forma, ninguém administra a Eucaristia a si; ela deve ser recebida como uma graça, e o “Amém” pronunciado na Comunhão é uma profissão de fé na Presença Real de Cristo na Eucaristia.

 

Fonte: Dom Antonio Carlos Rossi keller