As enchentes e outros grandes acontecimentos dos últimos tempos podem provocar em nós um aumento da caridade. Sabe Deus o quanto costumeiramente pecamos pela insensibilidade perante Ele e os nossos irmãos que sofrem e do quanto temos sido apegados às nossas coisas, orientando nossas atenções apenas ou exageradamente para a nós mesmos! Sabe Deus o quanto temos errado no modo como nos organizamos e em como temos convivido com as lógicas da sua obra, a natureza! Se nós temos o coração endurecido pelo egoísmo e ao mesmo tempo, com acerto, pedimos o aumento da caridade em nossas orações, Deus permite males, para que, a partir deles, tire bens ainda maiores.
Não será que temos vivido contra Deus? Nestes tempos de ditadura do relativismo, tivemos, de Deus, através de sua criação, a natureza, com as enchentes, um “chá de realidade”. Clamemos: Deus, tenha piedade de nós! Ponha fim às tempestades e inundações. De nossa parte, queremos a conversão, a mudança de atitude. É que, em muitos aspectos da nossa vida, temos ido contra a natureza. Basta pensar na ideologia de gênero e no assassinato de crianças no ventre materno. A respeito deles, a conta ainda virá. Outros puxões de orelha levaremos se não tivermos em conta a lógica da natureza feita por Deus. Ir contra a criação de Deus é ir contra Deus. Essa revolução não cabe, não dá certo.
Não estamos nesta conversa de mudanças climáticas por causas humanas. Isso sempre nos pareceu um sem sentido científico, uma propaganda ideológica no jogo de poder supranacional com interesses contrários a uma verdadeira caridade política. Estamos falando da natureza enquanto obra de Deus e detentora de uma lógica posta por Ele. O problema é que nos falta uma correta relação com a natureza. Quer dizer, falta de um verdadeiro domínio sobre ela, como relata o livro do Gênesis: “E Deus os abençoou e disse-lhes, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo ser vivo que rasteja sobre a terra” (Gn 1,28). Iluminado por Deus, o ser humano deve dominar também sobre sua própria natureza, não se deixando levar pelas paixões desordenadas.
Por causa de pressões políticas e econômicas, moramos em locais inadequados. Soma-se a isto, a falta de uma previsão, inclusive a médio e longo prazo, das possíveis catástrofes nestes mesmos locais. Daí é que muitos são assolados pelas calamidades, especialmente os mais pobres. É necessário melhor planejamento. Por que um bairro todo é alagado? Não faltou previsão? Por que as pessoas se alojaram ali? Por que a falta de manutenção do resguardo do local? Por que uma ponte ou uma barreira caiu? Por que, “do nada”, aparecem um vírus e etc.? Em alguns casos há que admitir que nossa ciência é limitada, não podemos conhecer ou prever tudo. Por exemplo: parece um tanto difícil prever que as chuvas provocariam tamanha queda de barreiras nas encostas próximas do Rio das Antas? Noutros casos, temos provocado o que ao menos poderíamos saber com antecedência e a culpa, então, é nossa. Aqui há técnicos que, com honestidade, podem avaliar melhor.
A caridade é aquela virtude da atenção amorosa para com Deus. Em consequência, se tem caridade, haverá amor aos irmãos e respeito com a obra de Deus. Cada um pode ter ou não a caridade. Ela pode aumentar com a ajuda das outras pessoas, pode ser vivida com os outros, como uma mentalidade de um grupo. Assim, a falta de caridade pode se apresentar como uma mentalidade, na ausência de melhor organização política, por exemplo: má organização dos cuidados com a saúde, a moradia, a educação, etc. Além do que, pode haver até políticas más, destruidoras do amor a Deus e às pessoas, destruidora da correta relação com a natureza e suas lógicas, tais como, políticas abortistas, contrárias à família, etc.
A caridade é uma amizade entre Deus e o homem. Por iniciativa de Deus, ela é infusa no coração humano. Contudo, toda amizade tem uma mútua benevolência, um bem querer mútuo baseado na comunicação de bens. Nós, que somos servos de Deus por natureza, fomos tornados filhos, herdeiros, admitidos como amigos. Que graça! Que alegria! O aumento da caridade é a intensificação, um maior enraizamento, desta amizade com Deus em nós. Como se dá? Com atos mais intensos de amor a Deus, aos irmãos e às obras de Deus. Também se dá pelos acontecimentos da vida, principalmente nos momentos de grande sofrimento. Nada escapa à providência divina. Não há que desesperar. Deus tudo conduz. Seu amor por nós permite que dos males Ele tire bens maiores. O bem maior é a amizade com Deus, a herança eterna. Deus nos educa para ela.
Que as festas juninas que lembram da comunidade do céu, façam aumentar em nós, que tanto padecemos, a fé, a esperança e a caridade. Que os padecimentos permitidos por Deus sejam um impulso para viver mais intensamente a caridade. Deixemo-nos guiar, esperançosos, pela providência divina.