Parece ser uma tarefa difícil propor uma reflexão agora, logo após o mês de maio, com todos os seus acontecimentos importantes que cercam a vida da Igreja como um todo e também de nossa Igreja Diocesana; sejam eles a comemoração de Nossa Senhora de Fátima, o centenário dos Beatos Manuel e Adílio, ou ainda as grandes solenidades da Ascensão do Senhor, de Pentecostes, Santíssima Trindade e Corpus Christi; um mês repleto de oportunidades para unir-nos mais às verdades da nossa fé católica. Pensando em tudo isso, julgo por bem, portanto, trazer uma reflexão um pouco diferente, mas que não se afasta nenhum pouco de todas estas comemorações que a Igreja nos apresenta; gostaria de falar um pouco sobre a realidade que estamos vivenciando em alguns locais do nosso Estado, mas não pretendo tratar disso como em um noticiário, mas sim como um testemunho de um jovem seminarista que encontrou a luz de Cristo mesmo nesta escuridão que muitas famílias estão vivenciando.
Quando coisas como estas acontecem, normalmente não sabemos direito como reagir e são muitos os sentimentos daqueles que perderam tudo e também daqueles que os acompanham; algumas vezes as emoções podem tomar conta e surgem os sentimentos de raiva, indignação e medo, que no fundo são apenas um pedido de socorro. Constantemente me recordo de um antigo canto da Igreja chamado En clara vox redarguit, que diz: “Que a alma se levante deste solo que jaz prostrada sonolenta, pois já brilha no céu o astro novo que todas as maldades afugenta”. Recordo-me deste canto, pois, mesmo em toda treva e dor, pudemos ver constantemente a luz deste astro novo que é Cristo brilhar sobre aqueles que arregaçaram as mãos com amor porque foram amados primeiro por Nosso Senhor e foram chamados a agir como sal da terra (Mt 5,13); a beleza da fé viva que produz obras e caridade (Tg 2,17), da fé que rompe as barreiras enrijecidas da indiferença e atinge o mais profundo do agir cristão. Em meio a esta tormenta, a Igreja, outrora maltratada e injustiçada, abriu suas portas para receber e dar cama inclusive aos seus algozes, sem questionar, apenas cumprindo o mandato de seu Mestre.
Tanto sofrimento é um mistério para nós, ainda que busquemos compreender humanamente tudo isso, se não direcionarmos nosso olhar para o Senhor não poderemos compreender que o agir de Deus também se faz presente em situações como estas, acordando as almas do sono em que jazem prostradas, para que possam lembrar daquilo que esqueceram tão facilmente, que é o caminho de Deus. Não temos a visão completa das coisas como Deus têm, vemos apenas aquilo que nossa frágil humanidade permite ver. Basta pensarmos em como Deus conduziu seu povo em todo Antigo Testamento, e como possivelmente muitos dos acontecimentos eram dolorosos para muitos, mas hoje tudo se compreende como caminho necessário para a obra salvífica de Cristo. Dizia Santo Agostinho que Deus não permitiria nenhum mal se dele não pudesse tirar um bem infinitamente maior. Com isso em mente, sabemos que todos sairemos diferentes destes acontecimentos, uns mais agradecidos a Deus pelo seu amor; outros mais unidos a ele pelo sofrimento; ainda outros mais humildes diante de Sua grandeza; mas todos certamente com a certeza de que nada neste mundo é eterno, e que a única coisa que permanece enquanto o mundo gira é a Cruz de Cristo e que sua Igreja sempre será refúgio, mesmo para aqueles que dela se afastaram em algum momento, e isto não é obra humana, mas obra de Deus.