A CENTRALIDADE DE DEUS NA SAGRADA LITURGIA

07/05/2024 às 11:09h

A liturgia é uma ação dirigida para Deus e com a presença de Deus. Ela é a manifestação da ação divina na Igreja. Na liturgia, Deus continua a revelar-se, a comunicar sua graça e a doar-se aos fiéis. Nela ouvimos a voz de Deus, nos voltamos para Ele e nos dirigimos a Ele rezando com as orações e as ações litúrgicas propostas pela Igreja. Estamos no amor e na adoração diante dele, recebendo-o e acolhendo-o.

Para que a liturgia seja sagrada e bela, devemos evitar transformá-la em um discurso moralista, em uma catequese didática ou em um simples e humano encontro festivo onde celebramos a nós mesmos. É preciso reconhecer a presença de Deus na liturgia, compreendendo o primado de Deus e tendo consciência de que através dela, estamos diante do próprio Deus. A liturgia é obra de Deus!

Esse primado de Deus na liturgia é descoberto quando direcionamos nosso olhar para Ele em vez de nos concentrarmos uns nos outros. Somente Deus pode ser o protagonista da liturgia, e é por isso que ela se torna sagrada e bela e deve ser cuidada. Conforme disse Bento XVI: “Em toda forma de cuidado com a liturgia, o critério determinante deve ser sempre o olhar fixo em Deus. Estamos na presença de Deus; Ele fala conosco e nós falamos com Ele. Quando, em nossas reflexões sobre a liturgia, nos perguntamos como torná-la atraente, interessante e bela, já estamos no caminho errado.

A natureza da liturgia nos leva a descobrir com alegria que ela é uma ação sagrada de Deus e diante de Deus sendo Ele o único centro possível. A liturgia é a Igreja em oração com o Senhor. Por isso, suas orações, prefácios e orações solenes são expressões do "eu" eclesial que une a todos para se dirigir a Deus. As leituras bíblicas e o Evangelho também têm grande importância, pois é por meio deles que Deus fala ao seu povo e o povo cristão responde com oração, silêncio e canto.

Podemos dizer que a liturgia é um diálogo entre Deus e seu povo, entre Cristo e sua Esposa, a Igreja. Estamos diante do próprio Mistério de Deus com reverência e adoração. No entanto, essa perspectiva é prejudicada quando introduzimos uma visão oposta, transformando a liturgia em uma festa em que a comunidade celebra a si mesma, colocando a comunidade como centro, em vez de Deus. O diálogo e a interação entre os participantes se tornam mais importantes do que a oração - diálogo de Deus com seu povo. A sacralidade da liturgia é comprometida, tornando-se então algo simplesmente humano, uma terapia ou um ato que reforça a identidade de um determinado grupo.

Nesse sentido, é necessário limitar e reduzir o protagonismo dos participantes na liturgia e enfatizar o protagonismo do Senhor. Devemos parar de olhar uns para os outros, dando opiniões ou intervindo “espontaneamente”. Devemos aprender a ungir a liturgia com respeito e sacralidade, direcionando o olhar de todos para um único ponto: Deus agindo e santificando.

Dessa forma, a liturgia não precisa ser inventada repetidamente e nem é necessário introduzir elementos novos para chamar a atenção e ser criativa. A liturgia não é algo “nosso”, uma performance humana baseada nas preferências dos participantes, mas sim a obra de Deus, na qual Ele trabalha, age e intervém. Não devemos remover Deus para colocar os assistentes em seu lugar, mas adorar a Deus juntos, ouvi-lo e permitir que nos santifique.

Fonte: Dom Antonio Carlos Rossi keller