Na parábola dos trabalhadores da vinha, o texto do Evangelho deste Domingo (Mateus 20,1-6), Jesus busca mostrar a maneira de como se deve receber o Reino, que vem até nós como oferta gratuita da parte de Deus.
O Senhor está perto de quantos o invocam
Reflexão sobre a Liturgia do 25o Domingo Comum A

Publicado em: quarta, 20 de setembro de 2023 às 09:12h
Por: Dom Antonio Carlos

Na parábola dos trabalhadores da vinha, o texto do Evangelho deste Domingo (Mateus 20,1-6), Jesus busca mostrar a maneira de como se deve receber o Reino, que vem até nós como oferta gratuita da parte de Deus.

Esta parábola quer propor uma nova forma de pensar em relação à questão da posse. A sociedade comercial estabeleceu suas leis a partir do preço, do dar um valor às coisas e ao trabalho. O trabalho é compreendido como uma mercadoria quantificável. Jesus procura fazer entender que podem existir outros critérios de avaliação, fundamentado não mais no preço (valor comercial), mas na gratuidade e no dom.

Este modo diferente de como Deus age perante os comportamentos vigentes no âmbito comercial, é descrito no Salmo Responsorial (Salmo 144) com as expressões «clemência», «compaixão», «paciência», «misericórdia», «bondade», «ternura» e «proximidade». Esta forma de comportamento mostra, antes de tudo, aquilo que é próprio de Deus, «rico em perdão» e a distância que existe entre seus caminhos e os caminhos dos homens.

A frase de Jesus «os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» implica num contraste total com os critérios existentes. Com ela reforça-se a ideia que se devem instalar na consciência humana critérios diversos dos vigentes. E que quando se trata do Reino de Deus, se deve aceitar que quem trabalhou menos receba o mesmo pagamento, já que o Reino é um dom gratuito, não quantificável e nem proporcional ao esforço realizado. Para isso, a parábola fala de um proprietário e de sua vinha. Para os ouvintes de Jesus a relação entre Deus e seu povo surgia de forma natura, já que na tradição dos profetas, este tema do proprietário da vinha era um tema muito conhecido. Os profetas tinham falado da relação entre Deus e o Seu povo com os mesmos termos. Jesus mostra como a única condição exigida para participar da tarefa era ser convidado pelo «proprietário». A preocupação deste é oferecer trabalho a todos os desempregados.

A novidade de critério fica bem clara na hora do pagamento. Os últimos convidados recebem o mesmo pagamento que fora combinado com os que chegaram à primeira hora.

Os da primeira hora pensam, conforme os critérios sociais vigentes, que poderiam receber uma soma maior e sua desilusão é grande quando recebem o mesmo salário. A sensação de injustiça surge naturalmente quando pretendemos quantificar o valor das nossas ações. Tentamos assim determinar o valor salvífico dos nossos méritos conforme o tempo que dedicamos à tarefa. Aqui se revela o erro dos primeiros trabalhadores. Na dinâmica vigente no Reino de Deus não importam os méritos que possamos ter, mas é necessário aceitar o convite como uma graça que pode ser partilhada com outros, pois Deus age não somente com o critério da justiça, mas principalmente com o da misericórdia.

Este é o Evangelho da Graça que São Paulo proclama na 2a Leitura de hoje (Filipenses 1,20-24.27), quando diz que seu «viver é Cristo».

Nessa resposta que o proprietário da vinha dá aos trabalhadores revoltados, fica claro o significado da gratuidade e da liberalidade de Deus. O mesmo dom extraordinário e gratuito é oferecido a todos. No seu desígnio salvador, Ele aproxima-se, sem fazer acepção, de todos os seres humanos.

O trabalho da vinha consiste em viver a sua vida. Comportando-nos de maneira digna do Evangelho, faremos um trabalho frutuoso. Para isso, temos de conformar critérios e opções à sua imagem e semelhança, morrendo para os nossos egoísmos e preferências. Vai Cristo conosco na mesma luta, suportando o peso do dia e do calor. Vive conosco de modo muito especial na Eucaristia, reserva de amor, que deixou entre os homens. Na Eucaristia sabemos que o lucro que recebemos é infinitamente maior de tudo o que damos a Deus.

 

 

Fonte: Diocese de Frederico Westphalen