A paciência de Deus
O texto da 1a Leitura deste Domingo (Sabedoria 12,13.16-19), apesar de ter sido escrito há cerca de dois mil anos (o autor provavelmente estava vivo quando Jesus nasceu!), fala muitas verdades para nós. É muito atual.
Nós, como os judeus daqueles tempos, podemos nos sentir “justos” e forçados a viver em um mundo de total maldade.
Também nós, algumas vezes, já imaginamos que um dia o poder de Deus destruirá todas as coisas ruins deste mundo, como um castigo. Não é verdade que também, algumas vezes interpretamos certas doenças, acidentes e desastres naturais como punição de Deus?
O texto que nos é apresentado responde a estas perguntas: o poder de Deus é sempre grande, mas o seu desígnio não é castigar nem ferir o homem.
Nosso Deus não é o Deus do castigo, nem da desgraça, mas o Deus do amor, da bondade, da mansidão e da paciência.
Seu domínio se estende por todo o universo. Deus ama não apenas as pessoas boas, mas ama a todos, mesmo os maus, porque todos são sua criação, todas saíram de suas mãos criadoras. É correto dizer que Deus não nos ama quando somos bons, ou porque somos bons. Ele nos ama, porque Ele é bom.
Ele quer nos ensinar, nesta 1a Leitura (Sabedoria 12,13.16-19), com este modo de agir, que devemos amar a todos, não apenas os bons. Devemos amar a todos porque Deus os ama. Ele, com muita paciência, possibilita o arrependimento de todos os pecadores, incluindo a nós. Seu único desejo é que nos convertamos e mudemos de comportamento. Desta forma, Ele nos fará felizes.
Na parábola do joio e do trigo, à qual se refere o Evangelho deste Domingo (Mateus 13,24-43) Jesus nos declara esta mesma verdade através da parábola do trigo crescendo com o joio, que representa o bom e o mau, o justo e o pecador juntos, no mundo.
Com efeito, no desígnio de Deus, a vida humana deve desenrolar-se nesta perspectiva. Os servos da parábola estão impacientes e com ânsia de se livrar das ervas daninhas o mais rápido possível. Eles esperam que todos os problemas sejam resolvidos rapidamente e sem hesitação. O dono do campo pensa diferente deles. Ensina que é preciso manter a calma, ser pacientes e não entrar em pânico frente a erva daninha que cresce com o trigo. O Senhor nos ensina que o bem e o mal, muitas vezes, não podem ser separados, devem crescer juntos e continuarão até o fim deste mundo, pois agora não é hora nem lugar para os separar. Isso acontecerá, mas não agora. Ou seja, Jesus nos ensina que o Senhor respeita a liberdade humana, torna nossas escolhas possíveis e nos dá tempo para nos arrependermos e nos convertermos. Quantas vezes, a presença de ervas daninhas, seja em nós mesmos ou nos outros, nos causa imenso sofrimento e humilhação. Não devemos e nem podemos exigir a perfeição total de nós mesmos e nem dos demais. Corremos sempre o risco de perdermos a paciência conosco e com os demais, pelos erros e pecados. Devemos afastar de nós, como uma verdadeira tentação demoníaca, a impaciência, a intolerância, a insensibilidade e a crueldade, seja com os outros, seja com nós mesmos. Deus quer que compreendamos a história e a vida, tantas vezes contrastante da Igreja, a nossa própria história pessoal, feita de trigo e joio, bem como a de nossos irmãos. Todos temos um pouco de bem e um pouco de mal. Essa provação, tantas vezes dura e difícil, deve nos ensinar a paciência e a tolerância com as fraquezas e desequilíbrios nossos e os de nossos irmãos. Podemos ser justos e pecadores até o tempo da colheita.
Qual o remédio, então? A paciência e a tolerância não são desculpas para não lutarmos sempre e buscarmos os meios que Deus nos oferece para irmos, pouco a pouco, mudando. Mas antes de tudo, precisamos orar muito!
Na 2a Leitura de hoje (Romanos 8,26-27) São Paulo nos ensina: “Não sabemos rezar”, ou seja, não sabemos o que pedir a Deus. Então ele nos diz que o Espírito Santo vem em nosso auxílio e sugere o que devemos dizer ao nosso Pai Celestial. Quando nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo, somos sempre cuidados neste combate que é a vida nesta terra. É o Espírito Santo quem abre os nossos corações para Deus e para os nossos irmãos e irmãs.
Para crer na presença e na ação do Espírito Santo, devemos abrir-nos à sua ação e decidir corresponder-lhe, o que significa estar atentos, mansos e dispostos a responder, buscando os meios que Deus nos oferece, através de sua Igreja, para nossa renovação pessoal.