Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Pela Graça de Deus e da Santa Sé Apostólica
Bispo de Frederico Westphalen
Nota Pastoral
As igrejas que se utilizam do nome de “católicas”, sem o serem de verdade.
1 – Situação
No território da Diocese de Frederico Westphalen, já há alguns anos, instalaram-se algumas destas chamadas “igrejas” que arrebanham alguns de nossos fiéis, realizando batizados, casamentos, crismas, etc. cerimônias estas plagiando os sacramentos da Igreja Católica, sendo que os respectivos “padres” e “bispos” utilizam-se não só de ritos semelhantes aos ritos católicos, mas até mesmo as vestimentas que usam são cópias das vestes e paramentos católicos.
Os próprios lugares de culto, com imagens, altares, etc., são aqueles pertencentes à tradição da Igreja Católica.
Fiéis católicos, em geral, desavisados e por ignorância, buscam as facilidades oferecidas por estas realidades: batismos e crismas sem cursos preparatórios, casamentos entre pessoas impedidas pela lei canônica da Igreja Católica de realizarem uma união, e outras.
Frente a esta questão grave, pois trata-se da salvação das almas e o bem dos fiéis católicos, encaminho esta Nota Pastoral aos senhores padres e diáconos da Diocese de Frederico Westphalen, como orientação clara em relação a esta grave realidade.
A Nota não tem nenhum fim polêmico ou de ataque a ninguém, mas é orientativa, para que os senhores padres e diáconos tenham clareza nesta questão e possam orientar seus fiéis com zelo e cuidado pastoral.
2 – Doutrina e Atuação.
Em matéria de doutrina, estas “igrejas”, mesmo as que têm nome e identificação de “católicas” procuram reproduzir a da Igreja Católica, excluindo (como se compreende) o primado de Pedro… A sua mensagem teológica é muito diluída. Vários destes padres e bispos são homens que, por questões ligadas ao celibato ou a qualquer outra questão disciplinar, ou ainda aqueles que tentaram chegar ao presbiterado na Igreja Católica, mas, por um motivo ou outro, não o conseguiram, então passaram-se para estas igrejas, onde o estudo e o acesso às ordens sagradas lhes foram extremamente facilitados. Infelizmente nota-se nos membros da hierarquia destas igrejas um verdadeiro oportunismo, ou seja, a procura de atender a interesses pessoais: ordenação “sacerdotal” ou “episcopal”, lucros financeiros mediante celebrações do culto, “casamento” facilitado em favor de pessoas já casadas, “batizados” sem preparação de pais e padrinhos, ou com padrinhos em situação irregular… Dir-se-ia que estas igrejas procuram adeptos a todo e qualquer preço. Lê-se, por exemplo, em anúncios de uma destas igrejas presentes em nossa Diocese:
Igreja Católica Apostólica… Santuário…: casamento com ou sem efeito civil de pessoas solteiras, desquitadas e divorciadas. Crismas. Consagrações. Celebramos também em residências ou clubes.
O que dá êxito a essa corrente religiosa são os seguintes fatores:
A reprodução dos ritos e a conservação dos símbolos (inclusive da linguagem) da Igreja Católica. Muitas pessoas não conseguem distinguir entre a Igreja Católica e estas igrejas. Há a intenção de guardar em tudo as aparências da Igreja Católica entre os responsáveis destas denominações;
O procedimento facilitário e oportunista dos responsáveis por estas igrejas. Esta não apresentam normas definidas de Direito Eclesiástico, de modo que os seus ministros são capazes de “legitimar” religiosamente qualquer situação ilegal daqueles que os procuram. Este comportamento de tudo facilitar é, naturalmente, fonte de dinheiro, pois estas igrejas sabem se prevalecer da generosidade dos fiéis. O auferir dinheiro se torna ainda mais fácil em virtude da ignorância religiosa de muitos cidadãos brasileiros.
A falta de estrutura doutrinária e disciplinar destas igrejas lhes tira a coesão desejável e faz que não tenham quase significado no cenário público do Brasil; apesar disso, conseguem penetrar dentro da população desprevenida da nossa pátria, favorecendo o ecletismo e solapando a vitalidade religiosa de muitos católicos.
3 – Qual a Validade dos Ritos destas igrejas?
a) A eficácia dos Sacramentos.
I – Um sacramento é um rito mediante o qual Cristo comunica as graças da redenção ex opere operato, ou seja, desde que o ministro respectivo aplique a matéria (água, pão, vinho, óleo) e a forma devida (as palavras que indicam o efeito da matéria).
II – Os sacramentos não são eficazes ou não conferem a graça em virtude da santidade do homem (sacerdote, bispo) que os administra, mas sim por ação do próprio Cristo, que serve do homem como instrumento de sua obra redentora. Todavia, para a validade do sacramento, requer-se que:
– O ministro tenha sido validamente ordenado padre ou bispo;
– Tenha, ao administrar o sacramento, a intenção de fazer o que Cristo queria que fosse feito, ou a intenção de se identificar com as intenções de Cristo, Sumo Sacerdote.
b) Que dizem estas igrejas?
Os adeptos destas igrejas:
– Alguns de seus ministros foram validamente ordenados padres e bispos, pois receberam a sucessão apostólica das mãos de quem os ordenou, que foram verdadeiros bispos da Igreja Católica. Outros, nem isso dizem, desprezando a autêntica sucessão apostólica;
– Alguns destes bispos fizeram questão de transmitir as ordens sacras segundo o ritual exato adotado pela Igreja Católica (usando mesmo o latim em algumas ocasiões);
– As missas, os batizados e outros ritos ocorrentes nas cerimônias de culto destas igrejas obedecem, em geral, à essência do Ritual vigente na Igreja Católica.
Por conseguinte, concluem os ministros destas igrejas que elas possuem autênticos bispos e presbíteros, e ministra validamente os sacramentos.
c) E o que diz a Igreja Católica?
I – Embora os ministros destas igrejas busquem aplicar exaustivamente a matéria e a forma de cada sacramento, falta-lhes algo de essencial para que seus sacramentos sejam válidos, isto é, a intenção de fazer o que Cristo quis que fosse feito. Na verdade, os ministros destas igrejas, mediante os seus ritos, intencionam, quando muito, criar e desenvolver uma “igreja” separada da única Igreja fundada por Cristo; tal “igreja” já não professa as verdades do Credo Apostólico, mas se entrega ao ecletismo religioso, por exemplo, considerando o Matrimônio não como um sacramento indissolúvel, mas algo que pode ser desfeito à vontade. Nestas igrejas, até por questões financeiras, seus pastores carecem daquela intenção essencial para a validade dos sacramentos: a intenção de fazer o que Cristo faz mediante os sacramentos.
II – Na verdade, hoje já é bem complicado saber até que ponto nestas denominações se conserva a fidelidade aos ritos sacramentais; com o tempo, as arbitrariedades e os desvios facilmente se introduzem nas mesmas comunidades. Em consequência, a Igreja Católica não reconhece as ordenações conferidas por estas igrejas, muito menos reconhece, em geral, a autenticidade das missas e dos sacramentos celebrados por elas.
III – Portanto, a orientação da Diocese, nos casos de batismos e crismas, é que, os que os receberam nestas igrejas, devem realizá-los sob condição, como é indicado nas Diretrizes Sacramentais da Diocese (pg 37, c n.2)
4 – Observações Finais
A Igreja fundada por Cristo (Mt 16,16-19) é Católica (aberta a todos os homens), Apostólica (baseada sobre a ação missionária dos doze apóstolos) e Romana (isto é, governada visivelmente por Pedro e seus sucessores), que têm sede em Roma (como poderia ser Jerusalém, Antioquia, Alexandria… se a providência Divina tivesse encaminhado Pedro e os acontecimentos iniciais da história da Igreja em rumo diverso do que realmente ocorreu).
O título de “Romana”, portanto não significa que a Igreja de Cristo esteja presa aos interesses políticos da cidade de Roma ou da nação italiana; nem implica subordinação dos fiéis católicos do Brasil a uma potência estrangeira, mas apenas indica que essa Santa Igreja tem seu chefe visível, instituído por Cristo, na cidade de Roma.
Os fatos acima apontados evidenciam a urgência de uma sólida catequese para o povo de Deus em nossa Diocese e no Brasil.