O ESPÍRITO SANTO NÃO ENTRA EM FÉRIAS

09/04/2024 às 11:30h

Disse o Senhor Jesus: "Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer, será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os enfermos, estes ficarão curados.” (Mc 16,16-18). O mandato de Jesus mostra-se acompanhado com a sua força. Jesus mesmo também disse: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,20).

O Espírito Santo não entrou em férias. Isso não terminou lá naquele começo dos tempos da era cristã. De fato, no livro dos Atos dos Apóstolos são relatados acontecimentos grandiosos, com a participação do Espírito Santo, realizados pelos discípulos. Grandes coisas fizeram os cristãos ao longo da história. Ainda agora, em muitos lugares, os cristãos são perseguidos, por conta de sua fé autêntica, fé com verdadeiros frutos de louvor e glória de Deus. O Espírito Santo sempre renova a Igreja. Para que seja grandiosa e cheia de vitalidade a nossa fé, é preciso observar os momentos áureos, quando a fé resplandeceu pelos seus frutos. Vamos observar como os primeiros cristãos viviam e como se mantinham, a partir de um pequeno trecho da Sagrada Escritura, do livro dos Atos dos Apóstolos (2,42-44). Imagine como isso nos poderia inspirar agora!

O texto diz que os primeiros cristãos eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos. Este ensinamento é a instrução que se dava aos novos convertidos, a fé a eles explicada, aquilo que deveriam crer, as razões de sua esperança e o mandamento novo do amor. Eles seguiam o ensinamento do que passou a se chamar Magistério da Igreja. Agora, em nossos tempos, e por já termos uma longa tradição da doutrina da Igreja, possível de se conhecer com clareza, perseverar neste ensino tem maior apelo. É soberba pensar que erraram durante séculos ou que a tradição errou e que agora temos que mudar. É revolucionário, destrutivo, sair a pregar algo contrário, para nos adequar a gostos do momento. Ainda mais quando o raciocínio claramente indica que tal doutrina a ser anunciada está em consonância direta com o que disse o próprio Senhor. Que tal conhecermos mais profundamente o que a Igreja ensina, pelo seu magistério, começando pelo Catecismo da Igreja Católica e passando ao menos por alguns dos mais importantes textos emanados dos papas e bispos dos últimos tempos?

Outra forma importante de avançar na vida cristã é procurar a comunhão fraterna de que fala no mesmo texto dos Atos dos Apóstolos. Mas que é a comunhão fraterna ali apresentada? É a vida de fraternal união na caridade, a união dos corações operada pelo Espírito Santo. Compartilha-se o maior bem que é a fé. É viver como irmãos, livremente, como numa boa família, onde todos se veem responsáveis uns pelos outros, mutuamente se ajudando, com desprendimento, sem que alguém fique desamparado, sem a fé. Não é um comunismo, como alguns ali fundamentam, tanto pelo fato de se escolher livremente assim viver, quanto pelo fato de não retirarem Deus da vida, de modo materialista, como no ateu comunismo. Em outras palavras, caminha-se pela via da virtude sobrenatural da fé, da esperança e da caridade. É sobrenatural por ser infusa por Deus no coração do que crê. Nada adianta se não se tem a caridade, nem mesmo a fé e a esperança têm sentido sem ela. Que tal hoje movermo-nos pelo calor da caridade?

O relato também apresenta que os discípulos eram perseverantes na fração do pão. Significa que eles participavam da Eucaristia. Fração do pão é um dos nomes da Sagrada Eucaristia. Os discípulos de Emaús inclusive reconheceram Jesus ressuscitado na Fração do Pão. Quer dizer, quando Jesus já ressuscitado rezou uma Missa com eles, onde também lhes explicou as Escrituras. Os discípulos, com o comer um único pão partido, o próprio Cristo, entram em comunhão com ele. Este é o centro do culto Cristão. Assim sempre foi. Se quisermos que se afervore a vida cristã no nosso tempo, há que se cuidar bem da vida litúrgica, especialmente da celebração da Missa. Se a liturgia for vivida de qualquer jeito, então a vida cristã será morna. Se for fervorosa, tende a vida cristã a encher o mundo com a verdadeira caridade, amor a Deus e aos irmãos. Que tal a frequente e piedosa participação na Missa, para o louvor e a glória de Deus e para receber seus frutos?

Por último, no mesmo relato, temos ainda que os cristãos eram perseverantes nas orações. Rezavam como o faziam os israelitas, com salmos e hinos que acompanhavam a Celebração Eucarística. Eram várias as orações. Eles continuaram indo ao templo de Jerusalém, como local de culto que era. Também rezavam nas casas. Depois, a partir do século III, quando se alcançou a permissão para o culto público a Deus, é que começaram a ser construídos os templos, dentro do Império Romano, e até usavam as construções do mesmo Império. Houve o culto junto ao túmulo dos mártires. Imagine como eram discretas estas orações no tempo das maiores perseguições. Para nós, afervora a vida cristã conhecer e contemplar a vida dos mártires, pedindo a sua intercessão. Que tal marcarmos alguns momentos do dia com o hábito da oração?

Este trecho da Sagrada Escritura que olhamos para inspirar nossa vida cristã é um dos pequenos resumos de como viviam os cristãos no início, que foi um tempo áureo, grandioso, heroico. Como no desenrolar da história, agora também o Espírito Santo não está em férias. Ele marcou a vida dos primeiros cristãos e está presente agora. Há que acolher o seu impulso, pedindo sua ajuda. Deus não o nega a quem pedir. Animemo-nos com a graça de Deus. Como pode que milhares e milhares de cristãos tenham morrido por causa da fé, espalhando-a, e nós fiquemos aí, sem vigor, a ver a banda passar? Seria uma vergonha ter uma fé débil, sem a corajosa esperança e sem a caridade ardente.

Fonte: Cônego Elisandro Fiametti
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