QUE É RESSUSCITAR DOS MORTOS?

18/03/2024 às 16:31h

Nós não sabemos bem o que é a morte. O que se percebe quando se morre? A alma, que é imortal, possivelmente em parte saberá o que acontece? Enquanto aqui vivemos, em certo sentido, a morte é um fenômeno visto nos outros e, mesmo assim, visto de fora. Ele fica na região do mistério. É difícil saber sobre a sua real natureza. Quando acontecer, e sabemos que vai acontecer, já não poderemos falar aos outros, a menos que haja alguma intervenção divina. Sabemos por Jesus Cristo que, depois da morte, haverá a ressurreição e que ela diz respeito ao corpo. Jesus apareceu diversas vezes e, numa das aparições, para centenas de pessoas. Ele deu o gostinho do que é a ressurreição. A tradição católica procurou compreender e ensinar sobre que é a ressurreição. Vamos descrever aqui algo deste mistério da nossa fé, a fim de celebrarmos bem a Páscoa e vivermos para o louvor a glória de Deus.

Santo Tomás, em seu catecismo sobre o credo, na parte que fala sobre a ressurreição da carne, comenta-a dizendo que “o Espírito Santo não só santifica a Igreja em relação à alma, mas também há de ressuscitar nossos corpos por seu poder.” A ressurreição diz respeito à carne e será no futuro. Ressuscitará o mesmo corpo que existe agora. E, como Jó fala, fazendo as vezes de Cristo, e a nossa vez, como participantes do corpo de Cristo, “serei novamente revestido da minha pele, e na minha carne verei o meu Deus (Jó 19,26).

O corpo será o mesmo, mas haverá uma qualidade distinta no corpo. Este corpo corruptível se revestirá de incorruptibilidade. (1Cor 15,53). Tanto bons quanto maus terão corpos incorruptíveis, imortais. Os bons sempre estarão na glória e os maus sempre sofrerão a punição. Não precisarão os corpos de alimento e nem de união carnal. Os corpos não sofrerão as corrupções presentes.  

Além disso, os corpos serão íntegros, ressuscitarão sem faltar nada da perfeição humana. Não haverá cegos, coxos, nem deficiência alguma. Santo Tomás ainda diz que os corpos ressuscitarão com uma determinada idade, entre 33 e 32 anos. Para ele, esta é a idade perfeita. É segundo a medida da idade completa de Cristo. Assim ele interpreta a carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,13).

Seguindo a esteira da tradição, Santo Tomás diz que os corpos dos justos serão claros, ou terão a claridade, pois, segundo diz São Mateus, os justos resplandecerão como o sol no Reino de Deus (Mt 13,43). Terão a impassibilidade, quer dizer, os corpos ressuscitarão gloriosos. Deus “enxugará toda lágrima dos nossos olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas de antes passaram”, diz João no livro do Apocalipse (Ap 21,4); Os corpos dos justos também serão ágeis, ou terão a agilidade, de sorte que brilharão como centelhas no meio da palha (Sb 3,7). Serão, ainda, sutis, espirituais. Significa que os corpos estarão totalmente sujeitos ao espírito. E todo o contrário caberá aos corpos dos condenados. Serão corpos obscuros, serão passíveis, embora nunca consumíveis, pois seu verme não morrerá e seu fogo nunca se extinguirá (Is 66,24). Serão corpos pesados, pois a alma estará neles como que acorrentada, aprisionada. A alma e o corpo dos maus, ainda, serão carnais, não espirituais. E, como diz a Bíblia com a tradução de São Jerônimo, sobre os corpos dos maus: “Os animais apodrecerão entre seus próprios estercos” (J1,17).

Vê-se como a fé na ressurreição da carne, que professamos no creio, é útil. Santo Tomás aponta quatro utilidades: Alivia ou ameniza a tristeza e a dor que sentimos pelos mortos; A esperança na ressurreição remove o medo da morte. A espera de uma outra vida melhor torna menos temível a morte; outra utilidade é a de que a esperança na ressurreição torna as pessoas cuidadosas e diligentes em fazer o bem. Se tudo se resumisse à vida neste mundo, não teríamos o estímulo em fazer o bem (1Cor 15,19). E, por fim, nos afasta do mal, por temor do castigo que virá depois (veja em Jo 5,29).

Sobre o processo do como foi a ressurreição de Jesus, isto está no mistério de Deus. Não sabemos. Estas características descritas por Santo Tomás e que aqui resumimos fazem parte do corpo ressuscitado de Jesus, do qual, por antecipação e ação dEle e do Espírito Santo, fazemos parte.

Recordamos, nos dias da Paixão de Cristo, como seu corpo foi descido da cruz, ungido e sepultado. Assim, também nós cuidamos dos corpos dos nossos irmãos falecidos. Depositamos no cemitério, como um lugar de semeadura, uma penúltima morada, na esperança de ver um dia neles e nos nossos próprios corpos a natureza do corpo de Cristo Ressuscitado.

Fonte: Cônego Elisandro Fiametti
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