O Espírito Santo, que conduzia Jesus enquanto caminhava sobre a terra, é o que de melhor podemos pedir de Deus, ainda mais nos momentos decisivos de nossa vida. Ele é o próprio Deus, nosso defensor, nosso advogado. É um sopro abrasador, de força infinita. O povo fiel o implorou ao longo da história. Os nossos mártires, Beatos Manuel e Adílio, viveram sob seu impulso. Agora, nós o pedimos na escolha de um novo papa, pelos cardeais. Não seremos frustrados, no que depender dele. O Espírito Santo, que o Senhor Jesus prometeu enviar, não é negado a quem, com disposição de recebê-lo, pede-o.
Estamos às portas da celebração da nossa Romaria dos Beatos Mártires Manuel e Adílio. Eles são exemplos da inspiração do Espírito Santo. E não é apenas de inspiração. Para ser mártir, são necessários os dons do Espírito Santo. Para navegar no mar bravio dos sofrimentos da perseguição por ódio à fé, os remos da força humana não são suficientes. Tais quais velas ou motores, são necessários os dons do Espírito Santo. Isto é, o impulso de hábitos sobrenaturais, infundidos por Deus, para aquele que já está na graça. O Espírito Santo sopra como, quando e onde quer, e ele não é negado a quem o pedir. E também temos que implorar a força dos dons, clamar sem duvidar, ainda mais quando aparecem as grandes dificuldades da vida.
A respeito da escolha que vivemos de um novo papa, numa monarquia como é a Igreja Católica, nós imploramos para que o Espírito Santo venha e esperamos que os cardeais façam depender a sua escolha da clara inspiração deste mesmo Espírito. Que eles não resistam ao Espírito Santo. Em outras palavras, quem escolhe o novo papa não é o Espírito Santo, mas são os cardeais, que devem seguir a Sua inspiração. Depois de eleito o papa, vamos rezar para que ele siga sempre esta mesma inspiração.
De outra parte, numa democracia, por falar em eleição, coisa que pode mudar os rumos da história de um lugar, o povo votante é convidado a manifestar nas urnas a escolha dos seus governantes. Bom seria que ali fosse inspirado pelo melhor entendimento do que seja o bem comum, principalmente levando em conta a vontade divina. Assim como o papa, também estes governantes, depois de escolhidos, precisariam seguir a inspiração do Espírito Santo. Dizer não à inspiração divina seria uma tolice, como todo o ateísmo o é, mesmo que faça ares de alta inteligência. Decorre que o Estado se declarar laico não deve ser pretexto para um estado ateu, contra Deus ou sem Deus, como se Deus não tivesse a ver com todos os aspectos de nossa vida. Se o Reino de Deus não é deste mundo, não significa que não deva reinar já aqui. Qualquer governante, para bem governar, importa que siga a vontade de Deus e, com os desafios que enfrenta, necessita dos dons do Espírito Santo.
E quem nalgum momento não precisou de um ou mais destes sete hábitos sobrenaturais, os dons, que aqui resumimos do teólogo Royo Marin? O temor de Deus, pelo qual o justo adquire docilidade especial para apartar-se do pecado e submeter-se totalmente à vontade divina; O dom da fortaleza, que robustece a alma para praticar toda classe de virtudes heroicas com invencível confiança em superar os maiores perigos ou dificuldades que possam surgir; O dom da piedade, que exercita em nossa vontade um afeto filial para com Deus, considerado como Pai, e um sentimento enquanto irmãos nossos e filhos do mesmo Pai, que está nos céus; O dom do conselho, pelo qual a alma intui retamente, nos casos particulares, o que convém fazer para alcançar o fim último sobrenatural, a bem-aventurança; O dom da ciência, pelo qual a inteligência do homem julga retamente as coisas criadas em função do fim último sobrenatural; O dom do entendimento, pelo qual a inteligência do homem se faz apta para uma penetrante intuição das coisas reveladas e também das naturais, em função do fim último sobrenatural; o dom da sabedoria, inseparável da caridade, pelo qual julgamos retamente de Deus e das coisa divinas por suas últimas e altíssimas causas que nos faz saboreá-las por certa conaturalidade e simpatia. Imaginemos nós no governo de nossa vida, de nossa casa ou de nossas instituições, com a presença destes dons. Evidentemente, faz toda diferença.
Além dos dons, o Espírito Santo infunde as virtudes na alma (fé, esperança, caridade, prudência, justiça, fortaleza, temperança e outras derivadas), e faz com que dê os melhores frutos, que são os atos excelentes de virtude, como enumera São Paulo (Gl 5,22-23): caridade, gozo espiritual, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade. Os frutos são atos, não hábitos, por isso podem ser muitos mais. Eles procedem dos hábitos e dos dons. E ainda temos as bem-aventuranças, aquelas descritas no Evangelho (Mt 5,3-10), que são também atos e que, por procederem dos dons, são os mais excelentes.
A verdade é que o Espírito Santo, mesmo por vezes sendo um ilustre desconhecido, está presente e sempre estará na história do mundo, desde a criação, com seu sopro de vida, até o fim dos tempos. Aparece em toda a Sagrada Escritura. Aparece na vida de Jesus, do início até a cruz. Está de modo exemplar na vida de Maria e dos outros santos, com grande força na Igreja nascente e conduz a história. Ele é o doce hóspede da nossa alma, quando esta se encontra em estado de graça, e infunde nela as virtudes e os dons, gerando frutos e as bem-aventuranças evangélicas.
Em algumas semanas, celebraremos a solenidade de Pentecostes. Preparemos nossa alma para celebrá-la, confessando nossos pecados e implorando a renovação da sua vinda na nossa vida, no modo como Ele julgar que necessitamos.