SOBRE OS MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS

07/11/2023 às 11:21h

Dentre as falsificações das relações sexuais está o uso de contraceptivos. A contracepção é qualquer ação que, seja em antecipação ou durante o ato sexual, impede a concepção. Não é novidade que um grande número de “católicos” tem usado algum método anticoncepcional, seja algum tipo de pílula, dispositivo intrauterino, vasectomia, laqueadura de trompas, ou outros. Há até quem mata, através do aborto, a criança que está por nascer e, neste caso, participa da mentalidade anticonceptiva e da cultura da morte com ainda maior gravidade. A prática anticonceptiva é matéria moral grave e, além disso, se a pessoa sabe e consente, comete pecado mortal, ofendendo gravemente a Deus e, consequentemente, comprometendo a salvação da própria alma.

O uso dos métodos anticoncepcionais é pecado não por que a Igreja quer fazer as pessoas sofrerem, terem culpa artificial, bem o contrário. Se, ao criar tais métodos, se pensava na autonomia das mulheres, em libertá-las, ao contrário, elas se tornaram ainda mais aprisionadas. Hoje, além dos cuidados do lar, do trabalho fora de casa, precisam lidar com os problemas de saúde física, psíquica, moral e espiritual decorrentes dos próprios métodos de controle de natalidade.

Muitas crianças sofrem o prejuízo de serem criados por terceiros, pois os pais não dão conta de as criarem. Isso não é motivo para o uso de anticoncepcionais. Também não o é a desconfiança de que a mulher poderá ser abandonada, tendo que arcar sozinha com o cuidado e os gastos da casa. O uso de anticoncepcionais só faz piorar as coisas que já não estavam bem. O problema é a péssima escolha do cônjuge. Há que se planejar bem o casamento. O namoro precisa ser um tempo de muito boa e acertada conversa, na graça de Deus.

Vi outro dia numa rede social algumas médicas fazendo as seguintes postagens, referentes ao anticoncepcional: “O anticoncepcional apenas possibilitou à mulher transar e não correr o risco de ter filhos. E, portanto, deu aos homens a facilidade de encontrar mulheres dispostas a ir para a cama, mesmo sem casar.” E, na mesma rede de uma clínica que trabalha a partir de princípios católicos: “Anticoncepcional é excelente! Para o homem, que se exime de responsabilidade; para o médico, que silencia a paciente e melhora de forma transitória suas queixas; para a indústria farmacêutica, que enriquece cada vez mais. Apenas a mulher, a única que sofre todos os efeitos, é quem se prejudica de todas as formas imagináveis…” E, para completar, “...o que dizer ainda de quem não tem qualquer problema de saúde e toma ‘remédio’ pra fazer o seu corpo funcionar mal?! Pois é... esse é o anticoncepcional...”. São comentários de médicas, não de pessoas leigas no assunto.

Algumas expressões ajudaram a disseminar e a enganar, fazendo parecer de boa intenção o ato de evitar filhos. Falava-se em “controle da natalidade”, pois não haveria alimentos para todos no mundo. Trata-se de uma falácia para o controle de populações, para efeitos de má política internacional.  Com o intuito de tornar mais palatável, criaram a expressão “planejamento familiar”. Através dela, surge uma forma de falar do assunto com um verniz atraente e até (falsamente) altruísta. Contudo, o contexto do controle de natalidade e da mentalidade anticonceptiva e abortiva é mais do mesmo: tomar o lugar de Deus, decidindo quem deve nascer e quem deve morrer. Melhor e correta é a expressão “abertura à vida”, quando o casal católico assume, no matrimônio, o compromisso de acolher os filhos que Deus os confiar. O uso de métodos anticoncepcionais, contrários aos significados unitivo e procriativo das relações sexuais, depõe contra a promessa feita. Impera a mentalidade egoísta e utilitarista do casal, que transforma a união sagrada em Deus em mera troca de favores sexuais, sem responsabilidades e sem assumir os presentes que Deus os deseja enviar.

 

Há ainda quem defende que se deveria limitar aos pobres o número de filhos, para que não ponham mais pobres no mundo que não possam sustentar. De fato, houve esterilização de populações pobres. É verdade que o sentido de responsabilidade precisa levar em conta o número de filhos que se pode bem criar. E parece que essa lógica se perde na medida que se vê casais com grandes posses terem pouquíssimos filhos. O que dizer sobre os vários tipos de pobrezas, como aquela denunciada por Jesus, a pobreza de generosidade, de profundo amor a Deus, de confiança na providência? Ele disse: “Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus” (Mt 19,24). Talvez seja pela facilidade com que se pode apegar às coisas deste mundo e ser pouco generoso.

É certo que, para ter filhos, há que ser generoso e, muito acima disso, confiar na providência Divina, na Sua Graça, que tudo sabe e que tudo permite O faz por um bem maior, ainda que não O possamos compreender totalmente através de nossa natureza humana. A paternidade e maternidade são experiências em que as virtudes da Fé, Esperança e Caridade se provam. Se Deus, que é Perfeito, puro Amor, permite apenas aquilo que gerará um bem maior (d´Ele nada de mal pode sair), por que temer receber todos os filhos que Ele enviar? Entregar-se à Vontade de Deus é o maior ato de Fé que existe e onde se dá a verdadeira liberdade.

É preciso deixar claro que uma das finalidades do casamento é a geração dos filhos. E ter filhos não é para a própria satisfação ou para não ficar sozinho, para evitar a solidão, até por que os filhos muitas vezes abandonam os pais. Tem-se filhos para amá-los em Deus e para que, com a sua formação, vivam como filhos dEle, amando, louvando e dando-Lhe glória.

Sabemos que o tema da sexualidade ordenada para a procriação é um destes que geram controvérsia. Nossa luta contra o pecado que nos rebaixa precisa que deixemos a graça de Deus atuar em nós. Jesus não prometeu facilidades, antes disse que seu jugo é excelente e seu fardo é leve. Significa o melhor de todos, não o mais agradável e prazeroso. Num ambiente cheio de necessidades artificiais exigentes, que até pouco tempo atrás não existiam e com a construção de uma mentalidade sem Deus, tudo fica muito mais complicado.

A boa formação e a alegria da família se encontram no que diz o livro dos provérbios: “A mulher de valor, quem a encontrará? Ela é muito mais preciosa do que as joias. Seu marido confia nela plenamente e não precisa de outros recursos” (Pr 31,10-11). Na história de grandes homens, geralmente há uma grande mulher. Há que se instaurar ou restaurar a cultura cristã, saindo do atraso em que nos metemos, alcançando a vida vivida com sabedoria, resgatando as virtudes da cidade celeste.

Fonte: Cônego Elisandro Fiametti
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