CARTA AOS SACERDOTES CATÓLICOS
“Recebe a oferenda do povo para apresenta-la a Deus. Toma consciência do que vais celebrar, conformando a tua vida ao mistério da cruz do Senhor”

03/10/2023 às 17:08h

Grande é missão do homem que é designado ao ministério sacerdotal. O sacerdote é chamado a configuração com Cristo que é Sacerdote, profeta e Rei. Todo padre possui uma personalidade própria que o caracteriza em suas ações, todavia, a identidade já não é mais sua, senão do próprio Jesus Cristo que age nele. O sacerdote é um bloco de mármore que vai sendo esculpido pelo martelo da vocação sacerdotal e, com o tempo, toma a forma do Cristo, transparece-O e se torna um só com Ele. Além disso, a essência sacerdotal é estar fundido com Cristo e a chama que os funde é o amor.

            A vocação sacerdotal não é uma miraculosa mudança de vida. Ela exige um progressivo desenvolvimento do candidato para assumir tal ministério. Dúvidas, temores e incertezas acompanharão o homem escolhido ao ministério no decorrer de sua formação, porém, é justamente por ter sido escolhido por Deus para tal configuração que Ele dará a graça da perseverança e a certeza da felicidade. “Deus dá sempre as graças necessárias para o perfeito cumprimento da missão que nos confia.”[1] O abandono à Divina Providência é a rocha firme para que o múnus sacerdotal seja estabilizado, pois só se ensinará quando fizermos de nossa vida um Evangelho; o governo será eterno se tiver Cristo por Rei e a santificação é uma ação sacramental, onde, principalmente pela ação Eucarística, somos cristificados e nos tornamos tabernáculo do próprio Deus encarnado.

            Sacerdote, toma consciência do que fazes! Tu és o homem que traz Jesus aos homens, afinal Deus quis descer aos altares pelas tuas palavras e gestos; Tu és escolhido para a missão que nem aos anjos foi confiada; Tu és o predileto da Mãe do Salvador e como se já não bastasse tudo isso, Deus quis fazer de ti a imagem do Cristo para as pessoas. Mas Ele precisa de ti, afinal, sem teu testemunho a ação da graça fica limitada, sem tua colaboração o povo de Deus não verá o seu Deus.

            “Os homens sem consciência de vocação são homens de futuros mortos [...] Quem está entregue a si mesmo e não à sua missão é um homem à deriva.”[2] Prometeste configurar-te a cruz do Senhor e agora só queres gozo? Queres chegar a ressureição sem antes passar pela cruz? Pobre de ti, pois, só há ressureição após à cruz e somente gozarão aqueles que souberam fazer da sua vida uma oblação por amor ao Cristo.  De nada vale as alegrias do mundo se perdermos a felicidade eterna, também, os sofrimentos da vida presente são um nada comparado aos da Vida futura (cf. Rm 8,18). Homem de Deus, aprende a fazer da tua vida uma entrega ao Cristo e sofrerás com alegria. Aprende a desfocar tua vida para transparecer a Jesus Cristo.

            Homem dos altares, aprende a ser santo como teu Pai que está nos céus o é (cf. Mt 5,48). Conforma tua vida com a Cruz e se homem de oração. Que as pessoas te procurem não pelo que tu és, mas pelo que tu representas. Lembra-te que és pastor de almas e há um povo disperso que anseia por ti, eles procurar-te-ão para curar seus anseios, angústias e procurarão em ti o Deus que se esconde nas espécies do pão e do vinho. Sacerdote, trazes um tesouro em vaso de barro (cf. 2Cor 4,7), por isso, cuide para que o vaso não se quebre e não derrames essa riqueza que não te pertence. Desconfie de ti e lembre que “há em todos nós, caríssimos irmãos no sacerdócio, um Jesus e um Judas escondidos no mais íntimo da nossa alma.”[3] Todavia, cabe a nós deixarmos as ocasiões de traição do nosso ministério – que se dá com pequenas concessões - ou sermos fiéis, amando até mesmo na dor da Cruz.

 

[1] Llano Cifuentes, Rafael. Sacerdotes para o terceiro milênio. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2009. P. 15

[2] Ibid. p. 19

[3] Ibid. p. 41

Fonte: Seminarista Eduardo Augusto - Promoção Vocacional da Diocese de Frederico Westphalen.
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