Desde o início da cristandade, Nosso Senhor Jesus Cristo é tratado pelos cristãos como o salvador. Não qualquer salvador, mas O Salvador, o Messias. Esta história tem início a partir do pecado de Adão, quando o homem ficou sujeito ao jugo do Maligno. Tendo ofendido a suprema dignidade de Deus, o homem jamais poderia reparar por si mesmo tamanha ofensa. Mas Deus, que é clemente e compassivo, e que ama sua criatura, prometeu aos nossos primeiros pais um Redentor (Gn III, 15).
A promessa de um Messias não foi um mero consolo para a humanidade. É um fato que se constata ao longo de toda a história do povo de Israel. Ao longo de séculos Deus foi revelando paulatinamente, por meio dos profetas, detalhes de como se daria a redenção da humanidade e como seria o Redentor, o Messias. Para que se tenha uma pequena noção: as profecias a respeito de Cristo versavam sobre o lugar, o tempo, as circunstâncias do seu nascimento, bem como, a sua vida, morte e ressurreição. Estas informações eram conhecidas de todo o povo de Israel. Eram ensinadas nas sinagogas. Até mesmo Herodes, o governador romano da Judeia, tinha certo conhecimento da profecia (Mt II, 1-7).
Localizado temporalmente em uma época muito distante do evento histórico da Encarnação do Verbo, temos o homem contemporâneo. Este homem vive em cidades modernas. Tem acesso à alimentação e ao lazer em abundancia. Possui os mais modernos sistemas de saúde, transportes, lazer e entretenimento disponíveis. É, de modo geral, um sujeito que intimamente acredita ter dominado todos os segredos do Universo. E que o seu papel no mundo é gozar infinitamente dos bens disponíveis. A ciência e a técnica convenceram-no de que é capaz de fazer qualquer coisa, que não tem necessidade do auxílio de absolutamente ninguém, salvo do seu smartphone. Este homem que nós descrevemos, quando ouve as palavras do Evangelho, não é capaz de compreendê-las e, no melhor dos casos, questiona-se: “para que um Salvador?”
A resposta é simples: o homem tem necessidade de um salvador por que precisa ser salvo. É um escravo e o pagamento da sua servidão é a morte (Rm VI, 23). Mas de que modo podemos constatar que o homem não é senhor de si mesmo, mas escravo? Basta que olhemos ao nosso redor: doenças, violência, imoralidades sexuais, corrupção, mentiras, e todo o tipo de sofrimentos.
O livro do Genesis afirma que tudo aquilo que Deus criou é muito bom (Gn I, 31). Não poderia ser diferente uma vez que Deus é a própria bondade. Qual seria então a raiz do mal e todas as suas funestas consequências? De acordo com os Padres da Igreja, mais especificamente com Santo Agostinho, o mal é a corrupção do bem. A origem do mal remonta à Rebelião de Lúcifer e de seus anjos. Lúcifer, condenado à eterna danação por seu ato de rebeldia contra Deus, ciente de que não poderia fazer nada que pudesse prejudicar diretamente o Criador, decide perverter a sua criação. Único meio de “atingir” a Deus. Afinal, que pai fica contente em ver seus filhos perderem-se?
Sendo a inteligência angélica muito superior à inteligência humana, Lúcifer convenceu nossos primeiros pais a desobedecerem ao Criador. O ato de desobediência ao criador é chamado de pecado. O pecado, introduzido na humanidade por Adão e Eva por intermédio da Serpente, afastou o homem de Deus e privou-o da sua Graça, pois ofende a dignidade divina que criou e mantém vivos todos os homens. A dívida que nossos primeiros pais contraíram com o Criador é impagável por parte do homem, pois Deus possuí uma dignidade infinita. Como, pois, o homem, um ser finito, uma criatura, poderia reparar a culpa a uma dignidade que nem sequer lhe compete imaginar? Era impossível.
Deste modo, quando morreu na Cruz, Nosso Senhor realizou um acerto de contas com Deus Pai, em nosso favor. Procedendo desta forma, salvou-nos gratuitamente da condenação que merecíamos por nossos pecados. Jesus, sendo Deus, possuí uma dignidade infinita, capaz de reparar a culpa original. O peso da culpa que pesava sobre a humanidade foi redimido e todo o homem que recebe o Batismo torna-se filho de Deus por adoção. Consequentemente podemos dizer, sem medo, que Jesus Cristo é o nosso salvador.