Celebramos no dia 14 de setembro a festa da Exaltação da Santa Cruz. É uma antiga Festa cristã que faz memória do instrumento da nossa salvação e recorda o seu encontro pela Imperatriz Santa Helena. A cruz, que antes era vista como sinal de morte e dor, tornou-se esperança de ressurreição e fonte de alegria para todos o que confiam e esperam no Senhor, como canta um hino do século VI, de São Venâncio Fortunato: “O Crux, ave, spes única” (ave, ó Cruz, esperança única).
O estandarte de Cristo tem uma função viva e atuante no caminho cristão – não é decoração de parede, muito menos amuleto de proteção e boa sorte –, lembrando-nos que é o mistério “pela qual Aquele que é a vida sofreu a morte e da mesma morte retirou a vida”, como diz o mesmo hino. Ele é sinal de glória, pois Aquele que foi ofendido no paraíso teve misericórdia do gênero humano e quis que a mesmo fonte do pecado e da morte, um madeiro, fosse fonte da graça e da vida, como canta um outro hino do mesmo autor: “Condoendo-se do engano armado ao primeiro pai, quando comendo do fruto proibido, incorreu em pena de morte, o Criador, desde então determinou o lenho para reparar o mal que a árvore tinha causado” (hino Pange lingua gloriosi proelium certaminis)
Esta festa deve nos recordar que o sacrifício salvífico de Jesus se perpetua na Igreja pelo Santo Sacrifício do altar: “Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha” (I Cor 11, 26). Após cada celebração, Cristo faz-nos o mesmo chamado que fez aos apóstolos, motivando-nos a seguir na caminhada cristã pelo seu próprio caminho, que é caminho de cruz, sustentados pelo Sacramento Eucarístico, fonte de vida: “Se alguém Me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-Me” (Lc 9, 23); “Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 50). A cruz jamais deve ser motivo de tristeza, como recorda São Josemaria Escrivá, pois aquele que ama sabe que qualquer sacrifício feito por amor se torna prazeroso, não como um masoquismo, mas com a conformação da vontade do amante com a daquele que é amado, o que levou o santo a dizer que “O autêntico amor traz consigo a alegria: uma alegria que tem as suas raízes em forma de Cruz” (Forja, 28).
A mensagem cristã, a mensagem de Cristo crucificado, “é escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (I Cor 1, 23), mas a nós, renascidos para uma vida nova por meio da fonte salvadora da cruz, podemos dizer com uma antiga versão do salmo 95(96), utilizada pelos Padres da Igreja: “Dominus regnavit a ligno” (Deus reina desde o lenho). Por isso, com São Paulo devemos clamar: “não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14). Que seja a cruz, portanto, a nossa alegria, a nossa glória e a fonte de forças na jornada rumo ao Céu, tendo a certeza de que as palavras de Cristo são verdadeiras: “meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11, 30).