ESSA CRUZ É A TUA CRUZ: A DE CADA DIA
Dia 14 de setembro comemora-se a festa da Exaltação da Santa Cruz. Saiba como surgiu essa festa e alguns meditações de São Josemaria sobre essa devoção.

03/09/2024 às 11:03h

História

Cerca do ano 320 a Imperatriz Helena de Constantinopla encontrou a Vera Cruz, a cruz em que morreu Nosso Senhor Jesus Cristo. Anos mais tarde, o rei Cosroes II da Pérsia, em 614 invadiu e conquistou Jerusalém e levou a Cruz. Mas em 628 o imperador Heraclio recuperou a Cruz e levou-a de novo para Jerusalém a 14 de setembro desse mesmo ano. Para isso realizou-se uma cerimônia em que a Cruz foi levada em pessoa pelo imperador através da cidade. Desde então, esse dia ficou assinalado nos calendários litúrgicos como o da Exaltação da Vera Cruz.

Agora que sabemos um pouco de sua história, vejamos alguns pensamentos segundo São Josemaria Escrivá.

A alegria na Cruz

Recordemos as palavras de Cristo: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me”. Estamos vendo a cruz de cada dia. Nulla dies sine cruce! nenhum dia sem cruz: nenhum dia em que não carreguemos a cruz do Senhor, em que não aceitemos o seu jugo. Por isso, recordemos sempre aqui que a alegria da ressurreição é consequência da dor da Cruz.

Mas nada havemos de temer, porque o próprio Senhor nos disse: “Vinde a mim, vós que estais sobrecarregados com trabalhos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas; porque o meu jugo é suave e o meu fardo leve”. Vinde - comenta São João Crisóstomo -, não para prestar contas, mas para serdes libertados dos vossos pecados; vinde porque eu não tenho necessidade da glória que podeis proporcionar-me; tenho necessidade da vossa salvação... Não temais ao ouvir falar de jugo, porque é suave; não temais se falo de carga, porque é ligeira.

O nosso caminho de santificação pessoal passa diariamente pela Cruz; e não é um caminho infeliz, porque o próprio Cristo vem em nossa ajuda, e com Ele não há lugar para a tristeza. In laetitia, nulla dies sine cruce! São Josemaria gostava de repetir; com a alma trespassada de alegria, nenhum dia sem Cruz.

A paciência e a Cruz

Na segunda tentação, quando o demônio lhe propõe que se atire do alto do Templo, Jesus recusa-se novamente a usar do seu poder divino. Cristo não busca a vanglória, o espetáculo, a comédia humana que procura utilizar Deus como pano de fundo da sua própria excelência. Jesus Cristo quer cumprir a vontade do Pai sem adiantar os tempos nem antecipar a hora dos milagres, antes pelo contrário, percorrendo passo a passo a dura senda dos homens, o amável caminho da Cruz.

Possumus! podemos, podemos vencer também esta batalha, com a ajuda do Senhor! Persuadi-vos de que não é difícil converter o trabalho num diálogo de oração. É só oferecê-lo e pôr mãos à obra, que já Deus nos escuta e nos alenta. Alcançamos o estilo das almas contemplativas, no meio do trabalho cotidiano! Porque nos invade a certeza de que Ele nos olha, ao mesmo tempo que nos pede um novo ato de autodomínio: esse pequeno sacrifício, o sorriso para a pessoa inoportuna, esse começar pela tarefa menos agradável, mas urgente, o cuidar dos pormenores de ordem, com perseverança no cumprimento do dever, quando seria tão fácil abandoná-lo, o não deixar para amanhã o que temos que terminar hoje: tudo para dar gosto a Ele, ao nosso Pai-Deus! E talvez sobre a tua mesa, ou num lugar discreto que não chame a atenção, mas que te sirva como despertador do espírito contemplativo, colocas o crucifixo, que já é para a tua alma e para a tua mente o manual em que aprendes as lições de serviço. (Amigos de Deus, 67)

Para que todos se salvem

Temos de converter em vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e pela penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com ânsias de cor redimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo.

O Senhor ofereceu-nos a vida, os sentidos, as potências, sem conta. E não temos o direito de esquecer que somos um operário, entre tantos, nesta fazenda em que Ele nos colocou, para colaborar na tarefa de levar alimento aos outros. Este é o nosso lugar. Aqui temos nós de nos gastar diariamente com Ele, ajudando-o no seu trabalho redentor. Com esse trabalho, contribuiremos para a extensão do reinado de Cristo em todos os continentes. E suceder-se-ão, uma após outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do Oriente impedidos barbaramente de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã, onde parece ter-se obscurecido a luz do Evangelho e as almas se debatem entre as sombras da ignorância... Então, que valor não adquire essa hora de trabalho!, esse continuar com o mesmo empenho por mais algum tempo, por mais alguns minutos, até terminar a tarefa! De um modo prático e simples, convertes a contemplação em apostolado, como uma necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Senhor Nosso. (Amigos de Deus, 67)

Fonte: Douglas Rodrigues Beilfuss, seminarista do terceiro ano da teologia.
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